
Os bloqueadores de celular são aparelhos que têm a capacidade de impedir que uma região ou área consigam receber ou fazer qualquer ligação através do sistema de telefonia celular. Como funcionam estes bloqueadores? É o que vamos descobrir neste artigo.
Quantas vezes você já esteve no cinema e, no meio da melhor cena, um celular quebra todo o ‘clímax’ ? E durante uma palestra? Nas salas de aula, em Faculdades, colégios e até escolas do ensino fundamental? No teatro, atrapalhando a concentração dos atores e fazendo crescer as vaias do público? Sem contar os problemas causados pelo uso destes aparelhos dentro dos presídios.
Muito se tem discutido sobre o bloqueio dos telefones celulares. Operadoras tiveram que tomar medidas emergenciais, como o desligamento de centrais celulares, causando transtorno à população de regiões inteiras, e não apenas das áreas a serem bloqueadas. Mas, como funcionam os bloqueadores de celular ?
1.Nível de sinal e mensagens – A Alma do sistema celular
Antes de saber como bloquear um telefone celular é necessário conhecer dois princípios básicos de seu funcionamento: a troca de mensagens entre a central e o aparelho celular, e a relação entre o sinal recebido e o ruído do ambiente onde o telefone está.
Para fazer uma chamada, é preciso discar um número e em seguida pressionar a tecla SEND. Ao fazer isso, o telefone coloca este número em uma mensagem, faz a modulação em uma freqüência específica e transmite o sinal para a estação celular mais próxima do aparelho. Para efetuar as conexões necessárias e conseguir completar a chamada, a estação deve receber o sinal enviado, conseguir demodular a mensagem e “ler” o número que o terminal deseja chamar.
Para receber uma chamada, é necessário que o sistema celular saiba qual a estação mais próxima do telefone. Para isso, todos os aparelhos celulares ficam sintonizando um canal específico, enviado por todas as estações do sistema, que contém as informações das chamadas (geralmente um canal de paging). Todos os terminais recebem as informações de todas as chamadas do sistema. Mas só conseguem ler as direcionadas ao seu aparelho, devido aos diferentes números de série de cada telefone.
Mesmo para uma conexão com a internet, serviço que algumas redes digitais permitem fazer, também é necessária a troca de mensagens. A transmissão de dados, voz ou mensagens são feitas em freqüências diferentes para a estação e para o celular, deixando um espaçamento que evita interferências entre ambas.
Para conseguir decodificar as mensagens que são moduladas, o telefone e a estação celular devem receber um nível de sinal mínimo, que, quando comparado com o ruído do ambiente, fornece uma relação mínima de sinal por ruído.
O ruído é a soma de todos os sinais de RF presentes naquela freqüência. Se a relação sinal/ruído for muito ruim, mesmo que a estação ou o telefone aumentem a sua potência de transmissão, não será possível “ouvir” as mensagens trocadas, ou seja, demodular todas as informações trocadas. Sendo mais direto: caso o nível de ruído seja muito grande, não será possível estabelecer comunicação entre a estação e o terminal celular, mesmo que ambos transmitam em alta potência. A relação sinal/ruído, típica, para cada uma das tecnologias celulares existentes é mostrada na tabela 1.

Tabela 1 – Relação entre o sinal (desejável) e o ruído (indesejável) em cada tecnologia celular.
Para um projeto de sistema celular, o mais desejável é manter o ruído afastado, seja pelo controle da potência de outras estações, pela limpeza de espectro de fontes interferentes ou qualquer outra ação de otimização.
Para bloquear as chamadas celulares, o que se deseja é exatamente o oposto: sujar o espectro, exatamente nas freqüências utilizadas para a troca de mensagens entre os aparelhos e a estação celular, de modo que seja impossível a comunicação.
Toda conversa entre a estação e o telefone celular é feita com respostas ao recebimento de mensagens, de ambos os lados. A estação envia uma mensagem para o celular e fica aguardando que o telefone responda o recebimento da mesma. O celular envia uma mensagem para a estação e fica esperando a resposta de recebimento correto da mensagem, para só então passar para a ação seguinte.
Caso as respostas de confirmação não sejam recebidas, tanto o celular quanto a estação aumentam a potência de transmissão (até um certo limite), como se tentassem “falar mais alto”, para serem “ouvidos”. Isto terá duas conseqüências:
– Aumentar a potência é gastar mais energia da bateria do celular, fazendo com que ele fique menos tempo ligado;
– Para bloquear o sistema, não é necessário interferir na freqüência do celular. Como a estação e o celular transmitem em freqüências diferentes, basta interferir na freqüência da estação, pois se não houver resposta às solicitações do celular, a comunicação não será estabelecida.
Em cada tecnologia celular, freqüências, canais e mensagens trocadas para viabilizar a conversação são diferentes. Mas, basicamente, o conceito apresentado é o mesmo para todas. Uma comparação entre as tecnologias é mostrada na figura 1.

Figura 1 – Comparação entre as larguras de canal de cada tecnologia celular.
1.1.AMPS e TDMA – Analógico
Ainda existem no Brasil algumas regiões com canais analógicos em funcionamento. Sua função principal é fazer falar os celulares que saem de uma região atendida por uma tecnologia digital para outra região onde esta tecnologia não está implantada. As áreas de atendimento de cada tecnologia são ilustradas na tabela 4, mais adiante.
Isto significa dizer que, caso o terminal digital não encontre o sinal digital irradiado, poderá migrar para o sistema analógico AMPS ou TDMA e, caso encontre sinal nesta freqüência, começará a utilizar esta tecnologia.
Nos sistemas analógicos, toda a comunicação entre o aparelho e a estação celular se inicia pelo canal de controle, que tem largura de 30 kHz, onde são trocadas as mensagens. Independente da banda de atuação, são designados 21 canais de controle (CCH) para todo o sistema AMPS e outros 21 canais de controle (DCCH) para todo o sistema TDMA, ocupando uma faixa de freqüência de 630 kHz para cada tecnologia.
Caso a tecnologia esteja na Banda A, independente de ser AMPS ou TDMA, estes canais serão transmitidos pelas estações na freqüência de 879,39 MHz até 879,99 MHz. Se estiver na Banda B, são transmitidos pelas estações na freqüência de 880,20 MHz até 880,62 MHz. Para o funcionamento de redes analógicas, a ANATEL permite apenas o uso destas freqüências, como pode ser visto na Resolução 376, de 2 de setembro de 2004.
Note que as duas faixas de freqüência para os canais de controle são contínuas, com uma largura total de 1260 kHz, iniciando na freqüência 879,39 MHz e terminando na freqüência 880,62 MHz.
1.2.GSM – Digital
A largura dos canais do sistema GSM é de 200 kHz. Não há uma freqüência pré-determinada para cada atividade a ser feita pela estação e pelo telefone celular, como no caso dos sistemas analógicos. Existe apenas a necessidade de ter canais exclusivos para o controle do sistema (BCCH) e canais para trafegar voz e dados (TCH). Cada operadora, de acordo com seu projeto de rede celular, feito pelo Departamento de Engenharia de RF, determina uma quantidade de canais responsáveis por fazer a troca de mensagens e controle do sistema (BCCH), e quantos canais serão dedicados para trafegar as informações, seja voz ou dados (TCH).
A quantidade necessária dependerá do número de terminais que existem em uma determinada região. Locais com grande densidade de telefones (centros urbanos, por exemplo) vão necessitar de mais canais de tráfego e de controle.
Para saber exatamente onde estão estes canais é preciso conhecer a alocação feita por cada operadora, dentro de cada faixa de freqüência leiloada pela ANATEL, de acordo com a tabela 2.

Tabela 2 – Faixas de freqüência para uso da telefonia celular no Brasil
É de responsabilidade de cada operadora determinar quais são as freqüências que foram utilizadas como canal de controle (BCCH). Nestas freqüências são trocadas as mensagens entre celular e estação.
1.3.CDMA – Digital
O sistema CDMA trabalha com uma técnica de espalhamento espectral. Uma informação de voz (que ocupa em um sistema analógico [AMPS ou TDMA] apenas 30 kHz, ou 200 kHz no GSM) passa por um código de alta taxa no CDMA, e ocupará uma largura de espectro de 1250 kHz.
No analógico ou no GSM, cada usuário tem uma freqüência específica para transmitir as informações. Já no CDMA todos os telefones e as estações estão na mesma freqüência. A diferenciação entre cada aparelho celular será feita através dos códigos de alta taxa utilizados para o espalhamento, que são completamente diferentes entre si, garantindo que a de um celular não seja confundida com a informação de outro celular, ou que a informação de uma estação não seja confundida com a de outra estação.
Para ampliar a capacidade do sistema e fazer a distinção entre usuários que apenas fazem chamadas de voz dos que fazem chamadas de voz e dados, são usadas portadoras diferentes no sistema. Cada portadora ocupa uma largura de 1250 kHz no espectro, e tem uma freqüência central bem definida.
Uma interferência ou ruído com 200 kHz de largura, na freqüência central de cada portadora do sistema, degrada a relação sinal/ruído, impedindo a decodificação do sinal espalhado, e por conseqüência, evitando a comunicação entre o celular e a estação.
2.Técnicas de Bloqueio
As duas técnicas mais empregadas para o bloqueio são a Gaiola de Faraday e os Geradores de Interferências. Estas são as técnicas com menor custo de implantação e que precisam de equipamentos menos complexos.
Existem outras técnicas para o bloqueio, como filtro de mensagens nas centrais telefônicas, intervenção de mensagens no sinal de RF ou detecção de mensagens. Mas estas técnicas exigem equipamentos muito mais complexos e a necessidade de instalação de softwares específicos dentro das centrais, o que gera custo alto, inviabilizando sua instalação.
Vejamos as duas técnicas mais comuns.